Lamentações
Como está sentada solitária aquela cidade, antes tão populosa! Tornou-se como viúva, a que era grande entre as nações! A que era princesa entre as províncias, tornou-se tributária!
Chora amargamente de noite, e as suas lágrimas lhe correm pelas faces; não tem quem a console entre todos os seus amantes; todos os seus amigos se houveram aleivosamente com ela, tornaram-se seus inimigos.
Judá passou em cativeiro por causa da aflição, e por causa da grande servidão; ela habita entre os gentios, não acha descanso; todos os seus perseguidores a alcançam entre as suas dificuldades.
Os caminhos de Sião pranteiam, porque não há quem venha à festa solene; todas as suas portas estão desoladas; os seus sacerdotes suspiram; as suas virgens estão tristes, e ela mesma tem amargura.
Poucos livros são tão visuais ou tão adornados com imagens e cenas como as Escrituras. A Palavra divina na boca dos antigos profetas era conhecida muitas vezes como visão. Diversas profecias das Escrituras se iniciam com uma visualização, com uma imagem e depois uma aplicação daquilo que o profeta havia visualizado em seu espírito. Essa identificação da profecia é tão intensa quanto seu relacionamento com a poesia. elas caminham de mãos dadas por toda a extensão do Novo e do Velho Testamento. Os antigos profetas anteriores a Samuel eram conhecidos por essa característica, a da visualização da revelação divina, como Videntes. Isso pode ser observado quando o jovem Saul, atrás das jumentas desgarradas, é aconselhado por um viajante a consultar ao profeta mais antológico da Palavra, o indefectível Samuel.
Samuel é aquele que é a figura histórica real que servirá de inspiração para o Merlin da fábula do rei Artur, aquele que é retratado no desenho "O aprendiz de feiticeiro" da Disney, ele é o "Gandhalf do Senhor dos anéis", o "Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore de Hogwarts";
Samuel é aquele que é a figura histórica real que servirá de inspiração para o Merlin da fábula do rei Artur, aquele que é retratado no desenho "O aprendiz de feiticeiro" da Disney, ele é o "Gandhalf do Senhor dos anéis", o "Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore de Hogwarts";
A cena do momento memorável em que o profeta, que jamais errou, se aposenta declarando seu juramento de inocência, quando resigna seu cargo como juíz de Israel, assim como os prodígios que se seguem, são uma das coisas mas mágicas que a terra dos homens pode contemplar. Mágica de Deus.
Voltando ao assunto, cada palavra dos profetas parece ter sido escrita para ser cantada, recitada.
Elas possuem ritmo, cores, matizes. São absurdamente sinestésicas.
Sinestesia é a capacidade que algumas pessoas possuem de misturar os sentidos, sentindo cheiro de chocolate ao ver uma barra, ou de ouvirem determinados sons ao verem certa cor, ou VEREM coisas ao ouvirem determinados sons ou palavras.
Elas possuem ritmo, cores, matizes. São absurdamente sinestésicas.
Sinestesia é a capacidade que algumas pessoas possuem de misturar os sentidos, sentindo cheiro de chocolate ao ver uma barra, ou de ouvirem determinados sons ao verem certa cor, ou VEREM coisas ao ouvirem determinados sons ou palavras.
Essa linguagem de imagens hoje em dia é uma realidade intensa e multifacetada, presente em cada representação gráfica na área de marketing, teatro, televisão e cinema. Nós associamos imediatamente um logotipo, um símbolo, a uma determinada marca. Basta silhuetas ou sombras para muitas vezes identificarmos um personagem. Porque a linguagem carregadas de imagens dos dias que vivemos são muito semelhantes a linguagem evocada pelos profetas.
Jeremias possui em suas profecias essa tremenda capacidade de carregar o que diz com cenas e imagens.
Ou o Espírito de Deus o leva a expressar-se quase que continuamente em cenas, em parábolas visuais, em expressão de seus fortíssimos sentimentos através de quadros, impressionantes quadros e visões.
É essencial para aquele que anseia conhecer as Escrituras aprender a ver. Ver as profecias, imaginar, ser conduzido pelas imagens a cada significado mais profundo, a uma experiencia vivida e a um encontro marcado com as emoções e sentimentos que tais cenas provocam.
Jeremias é um dos profetas das Escrituras cuja linguagem é quase um roteiro cinematográfico.
Não é possível ler Lamentações sem antes VER Lamentações. O livro de Lamentações é uma ELEGIA, um cântico funerário contido nas escrituras, um lamento fúnebre, uma das poesias mais tristes que o ser humano pode compor. Ou ser coautor. Por anos o profeta redarguiu, vaticinou, ralhou, brigou, reclamou, pressentiu, gritou, representou, teatralizou, vociferou, admoestou, amargurou-se, pregou, exortou uma geração incrédula, sabendo de modo claro que seria plenamente rejeitado e que a rejeição de seus sobre-humanos esforços para corrigir a conduta de seu povo seriam realizados em vão. Jeremias prega o futuro próximo, terrível, desastroso, fruto da impenitência, da injustiça, da indiferença, que levaria milhares a morte, ao exílio, á escravidão. Sabia desde que iniciou que sua causa era perdida e mesmo assim recebeu ordens expressas de não parar de dizer o que tinha que ser dito, mesmo sob risco de morte, escárnio, zombaria e prisões. O Espírito de Deus não permitiu que ele desistisse, não permitiu que a incredulidade reinante o cala-se, inviabilizasse que mesmo quando os exércitos de Babilônia invadissem a cidade ele parasse de de tentar persuadir que sua geração parasse de errar. E a tragédia veio conforme prevista e a cidade de Jerusalém foi destruída e as crianças e bebês morreram de fome e milhares morreram das enfermidades causadas pela destruição e mesmo arrastado por um grupo de rebeldes AINDA em desobediência à 40 anos de profecias, ele NÃO PAROU DE PROFETIZAR. Sujeito absurdamente teimoso.
Ele viu o fim desde o princípio e era como um farol aceso no meio da escuridão que jamais parava de brilhar.
E deu tudo errado, como ele já sabia.
Mas mesmo estando preparado por anos para a destruição de tudo que lhe era tão querido, quando vê a sua amada cidade destruída, o coração dele desaba.
Lamentações é esse desabafo. É sua reclamação final. Jeremias era um sacerdote, o templo o inicio de sua vida. E agora o templo, o famoso templo construído por Salomão, era só um monte de pedras incendiadas.
Lamentações é esse desabafo.
Agora veja as cenas que retratam a destruição de Jerusalém:
A cidade é retratada como uma moça, linda moça, sentada solitária, aquela que era rodeada de amigas, de gente que a amava. Ela está vestida de tal modo que é imediatamente reconhecida como uma viúva. Como as indianas que vestem-se de branco após a morte do esposo. Ela que era uma moça riquíssima agora é reduzida a uma assalariada. Então desce a noite sobre a moça, a jovem que perdeu seu esposo e ouve-se de longe seu choro, copioso, sentido. Ao aproximar-se de sua face dá pra enxergar as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Então o seu drama interior se manifesta. a moça possuía inúmeros amantes, mas é o verdadeiro marido dela, aquele que lhe dá o nome que está morto. E nenhum destes ilegítimos se aproxima dela para que ela seja consolada. Seus inúmeros amigos já não a procuram e afastando-se dela no pior momento de sua vida deixam-na mais pesarosa ainda. Como se não bastasse o abandono, pelas suas costas falam mal dela, tornando-se inimigos da pobre moça. ela recebe um nome Judá, e então é dito que ela agora é uma prisioneira. Que por causa dos duros trabalhos que é submetida não consegue descansar. E que agora vive meio de pessoas que já não falam a sua lingua natal. A próxima cena vai da moça aos antigos caminhos que conduziam os peregrinos ás festas de Israel, quando centenas de milhares vinham dançando e cantando salmos para a Pascoa, para a festa das Tendas e tantas outras que já não podem mais ser comemoradas. Esses caminhos tão cheios de alegria agora planteiam. Porque por todo ele existem pessoas de luto. As portas que finalizavam esses caminhos agora são ruínas, pedaços engastados em trechos do antigo muro que circundava jerusalém. A próxima cena Jeremias vê sacerdotes sem templo suspirando e as meninas sobreviventes, adolescentes e crianças em absoluto silencio. Então a cena retorna para Judá. Ela vê tudo isso estando também cheia de tristeza.
É belíssimo a amor que Jeremias possui pela cidade, por seus habitantes, por aquilo que ela representava.
Porque existe um livro tão triste dentro das Escrituras, você deve se perguntar.
Porque há um mistério no que diz respeito ao sofrimento humano causado pela sua impenitência, pela incapacidade de assumir seus erros, pela incapacidade de abandonar o ódio e a vocação para destruição do outro. Há um mundo de pessoas que como diz parte da letra da canção de Renato Russo - Mais uma vez, "tem gente que não sabe amar" vivendo como se pudesse usufruir dos outros para seu próprio proveito. Desde a exploração sexual das crianças escravizadas e vendidas pelos seus próprios pais, até as mentiras internacionais que condenaram milhões a fome e a indignidade pela exploração comercial e financeira. Há um mundo que não houve os profetas que foram levantados nessa geração.
Esse livro é o suspiro divino, quando a dor de Jeremias pela perda das coisas que ele tanto amava se encontram com os gemidos inexprimíveis do Espírito de Deus pela perda de milhões que amaram mais as trevas do que a luz. Esse lamento é o lamento profético pela forma com que milhões destruíram a si mesmos pelas drogas, pela avareza, pela inimizade, pela contaminação pelo poder. Não significa necessariamente dor pela perdição humana. Embora haja muita perdição nessa história. Mas significa necessariamente dor espiritual pela destruição humana, pela destruição de sonhos, dos projetos maravilhosíssimos que não se concretizaram na vida de muitos, porque não ouviram que deviam amar ao seu próximo, que deviam ter amado a seus corpos e que deviam ter amado a Deus.
Esse é a verdade oculta por detrás do livro de Lamentações.
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