quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Certo dia de batismo
De longe olham fariseus curiosos aquele novo louco. Sempre aparecia um por aquelas bandas. E mais loucos ainda aqueles dentre a multidão infame que atravessara vales e colinas deixando seus afazeres para realizar aquele ato de loucura no mais barrento dos rios. Raça de ignorantes, será que não sabiam que o excelso e reformado templo por Herodes o grande, onde uma vez por ano o sumosacerdote com vestes talares levava o sagrado sangue da oferenda, já não bastava para a purificação?
Claro que não sabiam.
Não havia em nenhum lugar dos rolos sagrados, pessoas indoutas, alguma ordenança ou orientação para aquele ato de loucura.
E nem nos demais livros dos sagrados intépretes, tal ato estranho.
E lá ia a infame multidão atrás de outro modismo, saido lá sabe-se de onde, aquela esquálida figura.
E pensar que o pai daquele rapazinho era um sacerdote. Se soubesse criar o filho não haveria aquele embaraço, aquela multidão chorosa e aquela cena espantosa lá no meio do rio.
Embora houvessem lendas sobre o nascimento do rapaz, diziam que seria um profeta. Profeta, ora pois, há muito tal ser vivente não aparecia em terras palestinenses.
Não sabiam que os profetas dos tempos antigos, esses sim, que eram os bons, morreram todos? Não estava encerrada na letra do torá e na boca dos letrados e doutos escribas a verdade revelada? E lá ia a multidão ser mergulhada pelo homem de vestes de camelo, comedor de gafanhotos, no lamecento Jordão. E eram afundados na água para que seus pecados fossem perdoados. e pasmem, gritavam seus erros e pecados ocultos diante de toda a multidão! Um festival exótico, um louco ritual!
E soldados, gente de toda a parte, até alguns escribas desavisados seguiam tal de João.
Isso lá é nome de profeta? João.
E lá pelas tantas vem outro pobretão banhar-se nas águas barrentas. Deve ser outro habitante da turbulenta galiléia, vindo de uma cidadezinha qualquer perdida no meio de tanta pobreza.
O batizador o tal de João resmungou alguma coisa para o sujeito. Acho que está se recusando a batiza-lo. Cena curiosa. O sujeito diz alguma coisa, se estivesse mais perto dava para escutar.
Enfim, chegaram a algum tipo de acordo.
O sujeito era bem parecido com o profeta, devia ser parente.
Mergulharam o homem.
Podia jurar que ouvi um trovão. Ou vozes. Uma voz, na verdade. Que coisa assustadora.
Ouvi perfeitamente:
'Este é meu filho amado, no qual tenho me comprazido"
O batismo cessou por hoje.
E meu coração está muito acelerado.
Muito
acelerado...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário