quarta-feira, 2 de maio de 2012
Certo dia no Tabernáculo
- Tem certeza que eu tenho que entrar ali?
- Tenho.
- Pelo que eu saiba, você é o profeta.
- E pelo que eu sei você é o sacerdote.
- Dá um tempo, Moisés! Quem é que passou 80 dias falando face a face com Deus? Eu? Lembra do dia em que o santuário foi consagrado?
- Lembro.
- Diz pra mim se você conseguiu entrar nele.
A roupa de Moisés reflete o brilho das pedras preciosas peitoral do juízo da roupa de Arão. O sol do entardecer dá a elas um aspecto de incandescência. Moisés sorri.
- Não. Não tinha condição. A unção não permitiu que eu sequer suportasse estar de pé.
- E você espera que eu entre ali, Moisés?
- Espero, Arão.
- E se eu morrer Moisés?
- Arão, se Deus quisesse que você morresse, não tinha te consagrado Sumo-sacerdote.
- Moisés. Estou com medo.
- Eu sei, Arão.
A coluna de fogo começava resplandecer sobre o teto do tabernáculo. O vento norte fazia o linho trançado dos muros estalar como trovões. Era o primeiro ano. A primeira vez que Arão entraria sozinho no lugar santíssimo.
- Lá dentro é muito escuro
- Eu sei Arão.
- E se eu tiver esquecido de confessar algum pecado?
- O Senhor é misericordioso. Coragem. Moisés tenta conter o riso.
Arão se dirige para a bacia de bronze, para lavar suas mãos.
- Mas, e se eu esqueci, Moisés?
Moisés firma o cajado nas mãos e se afasta da porta do santuário. Um dos filhos de Arão lhe entrega a bandeja de prata com o sangue do cordeiro. Arão empalidece.
Moisés suspira. Enquanto se afasta dá para escutar os joelhos de Arão batendo. Suas roupas ainda tem o cheiro do azeite que ele havia derramado abundantemente sobre Arão a um ano atrás.
Moisés levanta o cifre do carneiro que vez por outra levava consigo, onde guardava o azeite e o balança para que Arão veja.
Arão grita:
- Grande consolo. Roupas ungidas queimam mais rápido, sabia?
Moisés não se vira para retornar o comentário.
Ele vai sobreviver.
Ele vai sobreviver.
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