Berach Elohim Valmut
Vou descortinar um dos maiores mistérios das Escrituras.
Não se sabe quantos dias se passaram desde que as provações de Jó haviam começado, semanas, meses talvez.
Repentinamente perdeu suas três filhas adolescentes, seus sete filhos, sua casa, suas plantações, seu rebanho, seus camelos, sua condição social e posicionamento junto a cidade onde habitava. Tratado com desdém até por pessoas insanas que habitavam nos desertos.
E por fim perde também a sua saúde.
Extremamente debilitado, ele definha à olhos vistos, diante da mulher que foi um dia a mais afamada, honrada, rica e talvez mais feliz mulher de todo o oriente.
Sua esposa.
Não ouviremos sua lamentação ou seus gritos de dor na perda de seus filhos, ou na perda de suas posses.
Não a ouviremos no livro de Jó sequer sua (justa) lamúria pela tragédia que se abatia repentinamente,
sobre a pessoa que mais amara nesse mundo, seu esposo.
Perdera tudo, absolutamente tudo, compartilhando da mesma tragédia que seu esposo, tendo por única diferença a terrível enfermidade que lhe deformava a pele.
Chega contudo um instante em que não suporta mais tanta desventura e grita com as forças que ainda lhe restam para que de algum modo, aquele tormento interminável cessasse.
Desesperançada, desfalecendo diante de seus olhos a mais idônea pessoa que um dia conheceu,
num frêmito de ira, gritará com grande amargura, deixando suas ÚNICAS palavras nos 42 capítulos que retratam uma das maiores crises já vividas por um ser humano, desde que o mundo se formou.
Jó havia sido abandonado por todos, pelos amigos da cidade, pela população da vila local, pelos seus criados, mas não pela fiel companheira.
Mas a indignação dela tinha alcançado o limite humano.
O limite de uma mulher.
Então ela grita transtornada:
- Amaldiçoa teu Deus e morre!
Jó cabisbaixo, um farrapo humano se põe de pé e olha para sua esposa, exclamando logo em seguida:
- Você fala como se tivesse enlouquecido. Não recebi de Deus todo o bem? Não poderia também, receber todo o mal?
A alma de Jó é inquebrantável.
Ela sabia disso. Teimoso como uma mula. Tão grande como sua idoneidade eram os seus ideais.
Sua esposa não irá reclamar da decisão de seu esposo de não amaldiçoar a Deus, e vendo sua inabalável convicção,
Ela se cala. emudece.
Mas…ali permanece.
Mas...ali...permanece!!!!!
Começará aqui a ser desvendado um dos maiores mistérios das Escrituras.
Três homens sábios virão de longe para se encontrarem com Jó trazendo em seu bojo tudo o que a vida lhes ensinou sobre Deus.
Por sete dias ficam calados diante da tremenda tragédia sem saber o que dizer.
Entretanto, Jó tem muito a declarar.
Aquela palavra amarga de sua esposa causara algo dentro de sua alma.
E quando suas esperanças cessam, ele começa a exigir respostas de Deus.
Seus amigos não conseguem apaziguar seu coração. nada o consegue.
Eles tentam defender a justiça divina condenando os atos de Jó, mas é em vão.
Aquele homem jamais fez algo que o tornasse digno de tamanha represália da vida, do destino ou de Deus.
Quando Deus vem ao tribunal que Jó imaginou, após ter tomado os céus e a terra como testemunhas, pessoalmente, numa manifestação a que poucos seres humanos tiveram a oportunidade de ver, após defender-se do julgamento ao qual foi submetido por Jó, condenará as atitudes e palavras de seus amigos, péssimos consoladores e terríveis teólogos.
Deus não concordou com suas revelações, ou com suas tradições, com sua doutrina, com sua teologia. Eles fizeram afirmações erradas sobre quem ele era, à luz de suas religiões.
E ordenará a Jó que ORE e realize sacrifícios para que as transgressão de suas palavras e de seus corações seja perdoada.
Contudo, não pede que seja feita qualquer intercessão pela sua esposa.
Ele não vê naquela que mandou amaldiçoa-lo,
CULPA.
Ele não a condena.
Ele não a repreende.
Ele não a exorta.
Ele, o Deus TODO PODEROSO, que responderá veementemente a Jó,
silenciará diante de sua esposa.
Quando Jó é abençoado, quando suas posses voltarem ás suas mãos, o que já ocorria enquanto sofria, porque seus servos lutavam para reaver suas posses dos ladrões e salteadores que o haviam assaltado,
a mulher que fora a mais rica do oriente, retomará a sua posição junto ao esposo que jamais abandonou, sendo duas vezes mais rica que antes.
E a mulher que já gerara dez crianças, talvez de meia-idade, será rejuvenescida ao ponto de ter mais três filhas e outros sete meninos garotos.
Ela viverá com abundância e envelhecerá ao lado do esposo restaurado,
vivendo até ver seus netos e bisnetos.
Mesmo,
após ter amaldiçoado a Deus.
O que significa isso?
Quando ela vê que a relação de Jó com o Deus que ele adora e invoca está causando isso, após meses de sofrimento, chegou a uma conclusão.
Enquanto Jó permanecesse submisso, não haveria esperança.
Enquanto ele continuasse a viver na dependência daquele Deus, aos seus olhos agora, desprovido de amor, sem misericórdia, que mudara seu comportamento como se tivesse enlouquecido, Jó permaneceria sofrendo.
Ela então entendeu que o único meio de acabar com aquela agonia era se JÓ ROMPESSE OS LAÇOS QUE O LIGAVAM A DEUS.
Em sua mente ela viu que se DEUS o tratava como inimigo, mesmo Jó sendo por décadas seu sacerdote, quem sabe se Jó se tornasse seu INIMIGO, forçasse a um final, a um clímax daquela história nefasta.
Quem sabe Deus libertasse a Jó e ele morresse e se livrasse daquela maldição.
Ela preferia ver seu esposo morto a continuar sofrendo. Porque não conhecia que havia um outro modo. não conhecia o mistério da intercessão. de que poderia se posicionar contra o mal e contra aquilo que sua alma abominava, LUTANDO contra DEUS, mas sem que os laços fossem rompidos.
E é isso que Jó fará. Se levantará e reclamará, argumentará, dialogará, lutará por sua vida, pelo seu mundo, pela sua história. ele estenderá sua mão em direção aos céus EXIGINDO respostas como antes dele nenhum homem jamais o fez;
E Deus o ouvirá.
Assim como ouviu o lamento por detrás das duras palavras de sua esposa.
E tal coração não necessita de justificação (APÓSTOLO PAULO QUE ME PERDOE);
Não necessita ser interpelado.
Não necessita de repreensão.
Somente necessita ser contemplado.
Deus olhou para as chamas do altar que queimavam de indignação no coração daquela esposa.
E olhou para as chamas dessa indignação como um reflexo de seu próprio e inabalável coração.
O amor gritava em agonia no coração daquela moça. E a voz de seu coração ecoou no coração de Deus.
Assim como ecoou no coração de Jó.
Em dado momento no livro de Jó ele arde. Ele é como o fogo, ele queima, ele brilha. Ele
se levanta como um herói, ele fala coisas tremendas, e questiona a essência, a pessoa, os atos, a vontade, os desígnios e mesmo a eqüidade divina. E desafia a Deus a percorrer os caminhos
de sua humanidade, de sua mortalidade, de sua miséria. Desafia a Deus a deixar de lado seu Poder, sua Autoridade.
E defende-se diante das estrelas, da terra, dos anjos e dos homens.
Com a mesma brilhante chama que queimava incessantemente no coração de sua amada esposa,
que cumpriu seus votos de não abandoná-lo, mesmo quando Jó se tornou um morto-vivo.
E Deus é conhecido como um fogo consumidor, é manifesto na sarça ardente que queimava sem se consumir, é visto pelos seus profetas assentado num lugar de onde mana rios de fogo.
E Jó queimava. Suas palavras eram como fogo, e de sua indignação também brotaram raios, como nas visões em que o Senhor vem assentado sobre querubins.
Jó trovejou. Assim como sua esposa.
E suas vozes misturadas ecoaram como um trovão no coração de Deus.
Diante de tamanha indignação Deus não reclamará o fato
de ter sido amaldiçoado…
Tomou para si suas DUAS brasas e as colocou de volta ao aconchego de seu coração.
Concedendo graça,
vida
e respostas.
Welington José ferreira.
Jó trovejou. Assim como sua esposa.
E suas vozes misturadas ecoaram como um trovão no coração de Deus.
Diante de tamanha indignação Deus não reclamará o fato
de ter sido amaldiçoado…
Tomou para si suas DUAS brasas e as colocou de volta ao aconchego de seu coração.
Concedendo graça,
vida
e respostas.
Welington José ferreira.
Nota de rodapé na ausência de um rodapé.
A tradução literal disto é: abençoa Deus e morre. Ela utiliza o imperativo, (manuscrito do hb) que está relacionado a abençoar. A raiz é a mesma que para joelho. A bênção, na tradição antiga, era dada sobre o joelho. Acreditava-se que o sêmen ficava nessa parte do corpo (a palavra genealogia vem de geni = joelho). Não há na Bíblia a expressão amaldiçoe Deus.
Bom, se é assim, por que a palavra foi traduzida como amaldiçoe? Possivelmente, o que ocorreu foi que o redator do livro de Jó, por respeito ao nome de Elochim, não teve coragem de escrever a expressão “amaldiçoe Deus”, e usou “abençoe” como eufemismo.
Assim, ao invés da forma original e mais antiga do texto, “qalal elohim vamut” (amaldiçoa teu Deus e morre), surge a forma“barak elohim vamut” (abençoa teu Deus e morre).
Os tradutores, percebendo essa adulteração intencional, retornaram ao que seria a forma original do texto.
Na imagem abaixo vemos o texto de Jó 2,9 em hebraico, onde a palavra barak (em vermelho=bênção) aparece ao lado da palavra elohim (em azul=Deus):
Essa forma, presente nos atuai
O copista das Escrituras não tinha a coragem de colocar QALAL (Amaldiçoa) ao lado de Elohim...risos...
Ou o mais macho dentre os homens foi a mulher de Jó. Eu devia ter vergonha de colocar isso numa nota de rodapé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário